Texto de Marcílio Falcão(*)
Sem delongas: a meu ver, o principal atributo para uma aula ser considerada eficiente é que ela não se propõe a competir com os livros.
Veja bem, a aula, quando se propõe a meramente expor o conteúdo, não é, nem de longe, a melhor forma de aplicar seu tempo de estudos. Os livros já cumprem esse papel de condensar informação.
Se a aula for apenas uma versão em áudio do que já está nos livros — além de tomar muito mais tempo que as leituras equivalentes — não cumpre a função de acrisolar o entendimento que você tem do assunto.
A aula deve ser um complemento, uma orientação que “amarra” o conteúdo de várias fontes, destaca os pontos principais de cada tema, joga luz sobre pontos polêmicos e traz argumentos úteis que podem ser aproveitados na prova.
Pode-se argumentar que há candidatos que preferem aulas (embora demandem mais tempo) a leituras, ou que “aprendem melhor” com aulas.
Você acha, sinceramente, que quem quer ser diplomata pode prescindir de leituras? Você se imagina atuando como diplomata e dizendo ao chefe que vai se informar a respeito do país onde serve “assistindo a uma aula” porque não consegue ou não gosta de ler sobre o assunto?
Lembre-se de que você precisará, ainda, processar e ressignificar todos aqueles dados que serão apresentados nas aulas. Isso toma tempo e muito esforço. Como já disse em outras ocasiões, o que leva à aprovação é demonstração (ao examinador) de que você sabe tratar do conteúdo com riqueza e senso de pertinência, de uma maneira interessante, bem estruturada, coerente e elegante. Ou seja, você construiu, ao longo de sua preparação, uma narrativa, uma versão própria do tema, de preferência em uma “apostila” de estudos, montada por você, que mantém sempre atualizada.
Quem passa tempo demasiado agarrado passivamente a atividades meramente expositivas — na vã esperança de que está se preparando para a prova — quase sempre esbarra num plateau. Sente que tem todo o conteúdo, mas não está preparado para ser aprovado! Estudar e se preparar para a prova são esforços distintos, que produzem resultados diferentes. Não perca de vista as competências de prova. Você nunca vai saber tanto conteúdo a ponto de prescindir dessas competências.
A imprescindibilidade de apresentar um texto de qualidade na prova — que prevê recursos de comunicação que vão muito além do conhecimento do conteúdo — está, inclusive, expressa no próprio padrão de respostas divulgado pela banca examinadora. Em seus termos: “sua nota poderá ser menor do que a atribuída a outros que fizerem o exercício com maior qualidade intelectual, acadêmica e formal.”
Outro requisito de um bom curso expositivo é que ele não é nem tão longo, nem tão curto.
Por um lado, um curso longo demais vai tomar um tempo precioso que você precisará inevitavelmente dedicar ao domínio das competências de prova. O problema não é o conteúdo em excesso, porque saber mais conteúdo é inegavelmente melhor do que saber menos.
A questão é: do que você abriu mão, em termos de aplicação do tempo, para adquirir esse conteúdo? Deixou de escrever? De produzir suas “apostilas”? Ficou sempre com a sensação de que tinha “matéria atrasada” e que tinha que correr atrás do plano de aulas?
Um exemplo disso é que os candidatos que se classificaram em 1º lugar nas últimas 19 provas objetivas só conquistaram a aprovação em 5 edições do concurso!
Isto é, demonstravam grande domínio do assunto, mas tropeçaram nas fases seguintes (discursivas), que exigiram competências como a aplicação da expressividade, da organização de ideias, a produção textual, a habilidade de resumir e traduzir, etc., que certamente foram preteridas durante a preparação para que o candidato estivesse “tão bem preparado” para a etapa objetiva. Um trade-off evidente, mas que tendemos a não enxergar.
Não se pode negar que conhecer o conteúdo é imprescindível. Não se passa sem ele. Contudo, ele é uma variável (de muito peso, é verdade) de uma equação mais complexa. Em todos esses anos, estou acostumado a ouvir depoimentos de candidatos que só conseguiram a aprovação depois de entender isso.
Qual o tipo de curso ideal?
As opções são muitas. Há serviços de mentoria, aulas em vídeo e presenciais, grupos de debate no Telegram, correção de questões, simulados, além de professores(as) e cursos sérios no mercado com propostas interessantes e adequadas a diferentes perfis de candidato e carências de competitividade.
É importante, em primeiro lugar, reconhecer qual o seu momento de preparação.
Se você já domina o conteúdo mas sente que precisa assimilar as competências, poderia dar preferência a programas personalizados, como correção de redações e de questões discursivas, grupos de debate, mentoria.
Se, por outro lado, você sente que precisa de conteúdo, pois já tem boa desenvoltura na escrita, pode procurar conciliar um plano de estudos que prevê muita leitura com um curso de aulas expositivas que ajude a promover o casamento entre o conteúdo e o que a prova exige dos candidatos.
Sucesso, sempre!
(*) Diplomata, criador do Grupo Ubique, consultor educacional com vasta experiência em treinamento de candidatos a concursos de alto desempenho, como o CACD.
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