A jovem carioca Raquel Medeiros é uma idealista. E também uma pessoa muito simples, a despeito do currículo acadêmico invejável que detém: é pedagoga e mestre em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), especialista em Patrimônio Cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e doutoranda em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), localidade em que reside atualmente. Apesar da complexidade de sua rotina – como professora de ensino fundamental I e como pesquisadora acadêmica –, Raquel encontra forças e disposição para ser também cacdista. E mais do que isso: ela impulsiona consigo um coletivo de mulheres a se preparar para o desafiante concurso da diplomacia brasileira, através do Projeto Futuras Diplomatas, que se encontra agora em sua primeira edição.
O Projeto Futuras Diplomatas é um grupo de estudos voltado apenas às cacdistas, em especial àquelas com uma rotina intensa, “caso da maioria esmagadora das mulheres”, como muito bem pontua Raquel Medeiros. Trata-se de um impulso coletivo, que exige responsabilidade e comprometimento de todas as participantes, e que, no futuro próximo, as capacitará como multiplicadoras: “A gente não precisa esperar a aprovação para ajudar alguém. A gente pode se ajudar a chegar lá e a mudar o perfil de aprovados da carreira diplomática, para que ela realmente seja o retrato do nosso país”, afirma. O projeto nasceu de um anterior chamado Diplomigas, que serviu como base para a seleção das cerca de 40 participantes do Futuras Diplomatas: “elas preencheram um formulário e me contaram suas histórias. São mulheres com rotinas ímpares, que fogem ao perfil do cacdista clássico: do sexo masculino, de cor branca, da região sudeste, de determinado nível socioeconômico, que teve acesso a determinados bens culturais e que não precisou trabalhar durante os anos da preparação. Esse não é o caso da maioria de nós, mulheres, ou da maioria da população brasileira. As participantes são mães, estudantes, profissionais de áreas diversas, e tudo isso junto. Mulheres com rotinas peculiares, que têm de cuidar da família, do emprego, do estudo, da saúde. Não conseguem ter acesso a cursos extensivos para o CACD, por falta de recursos, e, de outro modo, não conseguiriam se preparar. Por isso, precisam de uma iniciativa coletiva”, aponta Raquel, que redigiu um artigo acadêmico correlato a ser lido aqui .
Diante dessa realidade, e como mulher, sentiu-se impulsionada a agir. Embora não estude de forma sistemática, Raquel conhece o concurso há algum tempo, e a partir da experiência adquirida como cacdista, entende que um projeto assim pode ajudar mais efetivamente as mulheres que fogem ao perfil e à rotina dos aprovados. “A rotina de estudos do Futuras Diplomatas é a possível, não a ideal, e foi resultado de uma construção coletiva das participantes”, ela diz.
Qual é o objetivo principal do Projeto Futuras Diplomatas?
Raquel afirma que o objetivo da iniciativa está atrelado à própria ideia do projeto: democratizar o estudo para o CACD, aproximando mulheres em situações variadas de vulnerabilidade do sonho da diplomacia. “Mesmo com as políticas públicas, com a popularização e o intuito de democratização que vêm surgindo, a partir de grupos e iniciativas diversos, a diplomacia é, ainda, uma carreira muito restrita, de elite, inatingível para muitos, principalmente para quem não tem um certo perfil”, pondera.
A imersão no doutorado em Ciências Sociais a sensibilizou ainda mais para as desigualdades que permeiam o concurso. Através de seus estudos, ela verificou que essas dificuldades são ainda maiores para as mulheres, cuja rotinas chegam a ser triplas. O objetivo do projeto é fazer com que as participantes consigam ter uma agenda de estudos adequada a suas vidas pessoais, no que tange a trabalho e estudo. “O ritmo da preparação é diferente para quem tem menos horas por dia para estudar”.
Metodologia
Cronograma de longo prazo, com bibliografias sugeridas para a carreira diplomática. A carga de leitura para o CACD é muito grande e não se encaixa na rotina sui generis das mulheres; portanto, aumentou-se o tempo destinado às leituras, que foram polvilhadas entre as matérias, para maior fluidez, tranquilidade e menor carga diária. As futuras diplomatas fazem exercícios, resumos, revisões, leem notícias, discutem os temas. Realizam também leituras não-técnicas.
Além disso, elas partiram do ponto zero do edital e pretendem estudar com afinco, a fim de criar uma boa base teórica para o TPS, que funcione como um platô para posterior aprofundamento, ou mesmo para um estudo autônomo.
Além disso, elas trocam materiais, na medida do possível, quando encontrados gratuitamente. Fazem, ainda, uma reunião virtual por mês, para avaliação crítica e ajuste de rota, quando necessário.
Outro ponto importantíssimo: há espaço entre elas para partilhar as dores e as alegrias da caminhada.
Quem pode participar e como?
Podem participar apenas mulheres. A princípio, haverá apenas esse grupo. Mais tarde, possivelmente no segundo semestre, será feita uma avaliação para definição das metas seguintes.
Como funciona a seleção?
Como o projeto é uma iniciativa coletiva, que exige responsabilidade e comprometimento de todas as colegas, a seleção inicial foi feita tendo como critério a complexidade decrescente das rotinas das participantes. E também considerou situações de vulnerabilidade como etnia e renda. “Ainda não temos nenhuma trans, nem indígenas, mas eu gostaria que tivéssemos. Espero que futuramente tenhamos. A proposta é que no futuro possamos ter, cada vez mais, pessoas em situação de vulnerabilidade tentando a carreira diplomática através do Futuras Diplomatas, para que, como eu falei, o corpo diplomático seja o retrato da nossa população, do nosso país.”
Para conhecer melhor o trabalho da Raquel Medeiros, siga-a nas redes sociais e acompanhe também o blog da cacdista:
Boa tarde! Tem algum grupo de whatsapp para essas reuniões virtuais ou troca de ideias e materiais?
Olá! Para maiores detalhes sobre o projeto você pode procurar a Raquel Medeiros diretamente no perfil dela no Instagram. O link está no texto do artigo, ok?
Boa sorte!